ENCONTRO COM MAYRA ITABORAHY

Nas minhas andanças...

Este sábado 28/03/2015 me reservou muitos momentos de emoção, a começar por ter tido a oportunidade de comemorar junto aos alunos e professores da EPM (Escola Portátil de Música da UFRJ) o aniversário de 80 anos de Hermínio Bello de Carvalho.

Mas essa será uma outra história...

Depois de uma manhã repleta de sonoridade, segui com umas amigas de Recife que estavam em visita,  para o Choro do Adelos Bar, considerado hoje um dos melhores pontos de encontro no Centro do Rio de Janeiro para os amigos que curtem o gênero.

Se você quer ter a oportunidade de ouvir e conhecer chorões do Brasil e do mundo inteiro. Este é o lugar.

Lugar de fazer amigos e conhecer novos talentos.

E foi ali, numa mesa de amigos que tive o prazer de conhecer quase que por acaso, a compositora, cantora e musicista Mayra Itaborahy.

Ninguém nos apresentou! Foi realmente um daqueles encontros que já estavam escritos (risos).

foto: Lucaco

Mayra muito simpática e atenciosa, primeiramente se interessou em saber mais sobre o Projeto da Rádio Viva o Samba e logo percebeu que já era ouvinte da nossa rádio.

Falei rapidamente sobre o projeto e ela prontamente se propôs a nos ajudar, adquirindo nossa camisa.

Papo vai, papo vem... Mayra me falou sobre seu pai e sobre o CD Página Virada, que foi idealizado por ela com muito carinho e me disse que nos enviaria as músicas.

Como papo com compositor sempre acaba em música (e isso eu já conheço desde menina), Mayra me contou uma linda história sobre um Choro que ela compôs.

Mesmo defendendo a tese de que Choro não deveria ter letra, Mayra confessa que a inspiração para este Choro já brotou em seu coração com letra e música!

Meu Deus! E que letra! Que música!

A nossa jovem artista já se pôs a cantar lindamente à capela aquela canção e a cada frase eu ficava mais atenta e emocionada.

foto: Marianna Itaboray 

Foi bonito ouvir Mayra contar o que sentia ao ouvir falar de um Antiquário na Rua do Lavradio que se transformava em um espaço para o Chorinho à noite.

Cabe aqui um pequeno comentário:  A Feira do Lavradio continua até hoje, mas e o Choro???  Ninguém sabe! Ninguém viu!

Não encontramos mais uma roda de Choro no local. E isso é de lamentar!

Meu marido e parceiro Luiz Correa e o músico Rafael Coelho, tiveram o mesmo privilégio ao ouvirem a interpretação tão autêntica de Mayra Itaborahy.

Costumo dizer que essa nova geração de artistas é que ainda nos dá a certeza de que nem tudo está perdido.

Nossa cultura permanece intacta nas mãos de tão dedicados jovens. Diante da banalização e inversão de valores da nossa mídia, diante da falta de  interesse em "vender" o que é bom, muito me alegra e emociona ter a oportunidade de encontrar uma Mayra Itaborahy, que traz em sua essência a delicadeza, a percepção musical (artigo em falta hoje em dia) e o talento evidentemente herdado de sua família.

Mayra cantou bonito e emocionou!

O Choro chama-se Lavradio 100 e a história dele, transcrevo aqui nas palavras de Mayra:

"Nos idos do ano 2000 ou 2001, uma amiga mudou para o Rio e "descobriu" um lugar que era um antiquário de dia e que se tocava chorinho à noite. Como ela sabia que eu era (e ainda sou) uma apaixonada por chorinho, me indicou para que eu conhecesse o lugar quando eu viesse ao Rio e me deu o endereço: Rua do Lavradio, número 100, Lapa. Fiquei encantada com essa possibilidade... Mas toda vez que eu vinha ao Rio tinha que voltar a Vitória no mesmo dia (vinha a trabalho). Contudo, não foi obstáculo para eu esquecer da dica da amiga.... acabei fazendo um choro para o lugar sem mesmo nunca ter ido lá. Um tempo depois que fiz o choro, acabei conseguindo um tempinho em uma das minhas idas relâmpago ao Rio e pedi que um taxista passasse na frente da Lavradio, 100 antes de me levar para o aeroporto. Qual não foi minha surpresa: não havia nada no local... Sempre achei que, então, eu tivesse feito um choro para lugar nenhum... Recentemente, fiquei sabendo (de tanto contar esta história) que lá funcionou o Empório 100! Fiquei feliz de saber!"

Esse foi mais um daqueles encontros que ficarão na lembrança e que faz tudo valer a pena.